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"Construa-se a esperança", por Luciana Pessanha Pires

Crônica

Tempo de fôlego curto, garganta embargada, desconforto gerado por um calendário novo e um modo de estar num mundo reconfigurado que exige reconexões.

Sucessivas histórias rompidas descortinam a alavanca do medo, a fome dos abraços, a necessidade de proteger e conhecer mais aqueles que participam de nossos afetos.

O apreço por objetos e paredes cede espaço para uma lembrança primordial da natureza e de sua generosidade. Desejamos ardentemente colocar o pé na estrada, sentir cheiro de mato, regular nossa respiração nessa caminhada. Ter bichos por perto e poder conversar com essa gente simples que conhece as ervas, que entende de chás, que nos envolve num fio de prosa matuta, macia e acolhedora.

Descobrimos que podemos nos libertar dos excessos, podemos consumir menos, que todos são importantes, que bichos são importantes, que a arte, a educação e a ciência devem ser respeitadas e valorizadas e que a fé é essencial.

Uma partilha humanitária convoca em nós a ampliação do sentimento de pertencimento integrando-nos numa espécie de catarse coletiva em cantos unívocos das janelas, vozes em expansão reunidas para variados fins.

Estamos diante de nossas escolhas e diante de um mundo que construímos sem as bases da equidade. Revisitamos histórias, e nomes como os de George Floyd e Miguel Otávio são urgentes na decisão de deixar de ser espectador passivo e ocioso diante de tantas atrocidades.

É hora de participar da construção desse novo tempo.

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